Comportamento, Cognição e Neurociências

Comportamento, Cognição e Neurociências

segunda-feira, 30 de março de 2015

Resumo do artigo: "Operants" - Schick (1971)



Resumo do texto 3:
Schick, K. (1971). Operants. Journal of the experimental analysis of behavior, 15, 413-423.
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O estudo dos operantes diz respeito às relações entre os comportamentos e suas influências, sejam elas contextuais ou consequentes. Interessado em discutir o termo operante, Schick (1971) inclinou-se a dissecar a definição de comportamento utilizada pelo Behaviorismo Radical proposto por Skinner, e deparou com duas questões, são elas: 1) Quanto do que ocorre no mundo pode ser considerado comportamento?; 2) Quais unidades do comportamento podem ser selecionadas?
Diante destas questões, o autor utiliza-se dos estudos e afirmações de Skinner para comunicar suas reflexões sobre os operantes. Inicia sua análise com a primeira definição de comportamento feita por Skinner, que apontou o comportamento como o movimento do corpo ou das partes do corpo de um organismo, ou seja, comportamento seria o que os organismos fazem. Porém, na visão de Schick, esta definição é limitada, pois alguns comportamentos, sob controle de seus antecedentes e de suas consequências, não se mostram em movimentos observáveis do corpo e não deixa claro se comportamento é algo que um organismo faz que tenha efeito direto sobre o ambiente.
Neste ponto inicial da discussão, Schick mostra que a questão sobre o que pode ser considerado comportamento não fica satisfatoriamente respondida por Skinner. Porém, assume que, mesmo não sendo possível definir exatamente o que é comportamento, ainda é possível estudá-lo tentando classificar as instâncias do comportamento. Assim, o autor levanta novamente a questão sobre as unidades do comportamento, mas com foco no comportamento operante, que, como já dito, é aquele comportamento influenciado pelo ambiente e por suas consequências.
Diante disso, Schick mostra que Skinner utiliza-se da Lei do Efeito para tratar do comportamento operante. Tal lei é uma tentativa de mostrar que as consequências de certos comportamentos determinarão a ocorrência de outros comportamentos. Assim, um novo questionamento é levantado pelo autor: Quais consequências são produzidas pelos comportamentos? Esta questão leva ao refinamento do conceito de reforçamento.
O termo reforçamento é definido como eventos ambientais que seguem os comportamentos e que aumentam a probabilidade de ocorrência futura de comportamentos do mesmo tipo. Em outras palavras, um estímulo será reforçador quando produzir algum tipo de mudança no comportamento.
Por conta da relevância que as consequências possuem sobre os comportamentos e pelo fato de que comportamento e consequência são partes de um operante, Schick (1971) apontou para um problema de circularidade quando observou que, nas palavras de Skinner, os operantes eram definidos em termos dos reforçadores e que estímulos reforçadores eram definidos em termos de operantes. De forma mais detalhada, o problema seria: um comportamento produz uma consequência ou uma consequência produz um comportamento? Esta circularidade não foi o ponto central da Lei do Efeito para Skinner, que insistiu em mostrar uma relação entre ambos os elementos constituintes dos operantes, ou seja, tanto a resposta quanto o reforço não devem ser analisados separadamente, pois não é possível identificar um sem se referir ao outro.
Esta discussão retoma a necessidade de encontrar a unidade de análise de uma psicologia comportamental. Schick aponta para o operante como a unidade de análise das relações entre os eventos ambientais, os comportamentos e suas consequências. Aqui, mais uma vez, o conceito de reforçamento é retomado e seu papel é fundamental para a manutenção das relações operantes uma vez que passa-se a entender que há uma relação temporal, expressa em termos de ordem e proximidade, entre resposta e reforço que mantém os operantes. Além disso, a noção de reforçamento aponta também para a probabilidade de ocorrência de outras respostas semelhantes à primeira.  Assim, o reforço que uma resposta produz, pode aumentar a ocorrência dela mesma, assim como de outras respostas semelhantes em forma e/ou função.
Na tentativa de definir o termo operante, Schick se depara com diversas definições e uso de outros conceitos (eventos ambientais, classe de respostas, reforçamento). Porém, nota-se que para compreender a noção de operante é preciso ter foco na função do comportamento, ou seja, como ela opera no ambiente e quais modificações produzem sobre ele. Assim sendo, a topografia (forma) de um comportamento pode ser considerada, mas não se torna o foco principal da unidade de análise comportamental. Em outras palavras, a preocupação de Skinner ao definir, mesmo de que forma confusa, o termo operante foi chamar a atenção para os efeitos que os comportamentos dos organismos produzem sobre o mundo.
Segundo o autor, existe uma simples, mas muito importante, consequência do conceito de operante: pelo fato de muitas respostas terem muitas diferentes propriedades indefinidas, toda resposta pode pertencer simultaneamente a muitos e indefinidos operantes. Ou seja, para ele, há um claro problema de definição que impede tratar propriamente do operante enquanto tal.
Então, se operante é definido enquanto classe de respostas que possuem certas propriedades sobre as quais o reforço é contingente, Schick chama atenção do leitor quanto a um suposto problema relacionado à definição de extinção e comportamento supersticioso. Skinner entende que quando um reforço não é mais liberado quando a resposta é emitida, a resposta tende a diminuir de frequência e pode até deixar de ocorrer, este evento pode ser descrito com processo de extinção comportamental. Dada essa condição, Schick entende que há um tipo de operante que não pode ser definido pelas propriedades em que o reforço é contingente, uma vez que na extinção não há reforçamento.
O mesmo pode ser pensado sobre o comportamento supersticioso que, grosso modo, descreve o controle de respostas mesmo quando o reforço não é contingente a uma dada resposta alvo, ou seja, a resposta é reforçada acidentalmente. Em outras palavras, significa dizer que o operante pode não ser mais definido em termos de sua consequência. Ao tratar desse contexto, o autor coloca que um possível erro da explicação de Skinner está no entendimento de que há contingência de reforço apenas pela contiguidade entre resposta e reforço. Schick enfatiza mais uma vez que, por definição, o reforço não é contingente a resposta em si, mas a suas propriedades. Sendo assim, a classe operante do tipo supersticioso, embora possuam propriedades semelhantes, não são definidos em termos da produção do reforço.  
Quando se trata do conceito de transferência ela é definida como o fortalecimento de respostas que não foram diretamente reforçadas em função do reforçamento para respostas que possuam as mesmas propriedades. Portanto, o conceito de transferência também problematiza que operante não é definido apenas por uma relação de dependência, mas que abarca as propriedades de uma resposta. No entanto, se há reforçamento para uma classe de respostas que possuem elementos em comum, não se pode falar de transferência, pois nesse caso houve reforço para todas as respostas que possuem o mesmo elemento em comum.
O termo mando, previamente definido por Skinner como uma relação única entre a forma de uma resposta se apresenta e o efeito reforçador recebido por uma comunidade, é criticado pelo autor pela circularidade. De acordo com Schick, para se reforçar uma resposta de mando, você precisa identifica-la e ela só é passível de ser identificada quando ela recebe seu reforço específico pela comunidade. O autor faz um exercício de crítica conceitual, convidando a analisar as limitações do conceito de mando em se encaixar dentro da noção de operante, porém sua argumentação carece de trabalhar a questão da relação probabilística, pois mesmo quando há dependência entre eventos existem uma série de outros processos que determinam a probabilidade da ocorrência. Nesse sentido, as definições de extinção, comportamento supersticioso, transferência e mando, mostram que operante não pode ser definido em termos de uma unidade de comportamento e que na história do organismo, diversos comportamentos que possuem as mesmas propriedades devem ser registrados.
Por fim, insatisfeito com as definições e argumentações de Skinner, Schick buscou ele próprio definir o termo operante. Para ele, operante é definido como propriedades de uma resposta de diferentes tipos; estas propriedades dizem respeito aos efeitos, às formas e à ocorrência de certas respostas na presença de certos estímulos.

SOBRE O AUTOR

Karl Damian Schick, é professor formado pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard. O artigo entitulado de “Operants” foi originado da sua tese de doutorado apresentada em 1971, com o tema “Studies on the foundation of Skinner's psychology”. No período até 2012 o autor foi responsável pela publicação de três livros relacionados com a área de análise linguística e lógica. Curiosamente, Schick recebeu seu título de PhD. em 1971 juntamente com outros 25 alunos seletos de Harvard, dentre eles os renomados psicólogos Howard Gardner e Gary Schwartz, (responsáveis pelas teorias das Inteligências Múltiplas e Evolução da Consciência).
 
* Resumo elaborado por: Flávia da Fonseca Hauck Ferreira, Ítalo Siquiera, Karen Ellen Mororó Araújo, Leandro Schroder, Lesley Diana de Sousa, Messias Batista Salvador, Rodrigo Kill, Wanderson Barreto, Wilson Bonfim.

40 comentários:

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  2. O texto de Shick (1971) trás certo incômodo quando lido atualmente por não tratar sobre a função que determinada unidade de comportamento tem sobre o ambiente. Além disso, a tentativa de definir o que é unidade de comportamento, definir classe de comportamentos e os efeitos do comportamento, parecem não levar em consideração um entendimento central na Análise do comportamento de que comportamento é uma relação com ambiente. Portanto tentar definir comportamento levando em consideração apenas uma parte do comportamento, ou seja, exclusivamente a resposta dada por um organismo, foge aos preceitos da análise do comportamento, primeiro por ignorar a relação e excluir portanto uma parte do conceito de comportamento. Ao se analisar apenas a resposta, destitui-se a mais fundamental questão levantada por Skinner sobre como a resposta é selecionada pelo ambiente. Segundo, não considera a função da resposta, portanto baseia-se em uma definição sobre a forma da resposta e a sua estrutura, o que não é relevante em uma ciência do comportamento, tendo em vista que o que é útil para previsão do comportamento é a função que determinada resposta tem, ou seja porque aquela resposta é mantida no repertório de comportamentos do indivíduo. Portanto, na análise do comportamento, a questão central não é o que é comportamento, mas sim, como esse comportamento interage com o meio ambiente e é por ele modificado.
    Por exemplo, quando se pensa em uma definição de comportamento quanto a forma questiona-se se abrir uma porta com a mão esquerda é um comportamento diferente de abrir com a mão esquerda. Na análise do comportamento, o interesse não é qual das mãos foi utilizada, mas a consequência que teve no ambiente pela resposta dada pelo organismo, então a relação entre a resposta dada e a consequência da porta aberta.
    Flávia Hauck

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    1. Ótima observação, Flávia! Realmente precisa ficar claro que comportamento, para um/uma analista do comportamento, não será apenas mudanças físicas no movimento muscular.

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  4. Concordo com a crítica da Flávia. Em muitos momentos, senti incômodo pelas críticas feitas pelo autor ao conceito de "operante". Como foi escrito em 1971, ele se delonga em muitas críticas que, atualmente, não são tão relevantes para definir o conceito e, ao mesmo tempo, deixa de explicar pontos mais importantes, na minha concepção. Ao longo de todo o texto, senti falta do enfoque ao aspecto funcional e relacional do operante. Ele apresenta tantas lacunas nesse sentido que pode dificultar a compreensão para alunos que não são da Análise do Comportamento (AC); não considero ser um texto adequado para quem vai ter um primeiro contato com a área. Por exemplo, ele fala bastante da circularidade existente entre o conceito de operante e o conceito de reforço, mas não explica aspectos fundamentais para definir um reforçador. Quando discutido em sala, foi feita uma pergunta sobre se o reforço vai ser sempre algo ‘bom” para o indivíduo, já que aumenta a freqüência do comportamento. Essa dúvida é muito comum, pois há uma confusão entre os conceitos de reforço/recompensa/prêmio. Na verdade, o que define um reforço não é a sua forma ou o que se conhece no senso comum como algo bom, mas a função exercida; depende do contexto. No caso de uma “bronca”, por exemplo, a maioria das pessoas pode considerar como algo ruim, algo que deve ser evitado. No entanto, no caso de uma criança que passa o dia inteiro sozinha e que, mesmo após os pais chegarem em casa, não recebe atenção, comportamentos que têm a probabilidade de produzir uma bronca dos pais podem ter a sua freqüência aumentada, porque a bronca viria acompanhada de atenção/ companhia. Desse modo, sempre que os pais estão em casa, a criança pinta a parede, quebra um copo, grita, etc. Portanto, mesmo algo encarado pelo senso comum como "algo que as pessoas não gostam" pode adquirir propriedades reforçadoras

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  6. O artigo discute o conceito de Skinner sobre operante, definindo como operante aquilo que o organismo faz, a ação com reflexo no mundo exterior. O comportamento, nestes termos, parece ser meramente o movimento realizado pelo organismo. O operante e o reforço aparecerão sempre juntos e para fugir da circularidade de quem vem primeiro, Schick sugere que, tanto o operante quanto o reforço sejam observados levando em conta o contexto, do organismo e também do movimento por este realizado.

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  7. Quando Schick se refere a definição de Skinner sobre o comportamento operante como sendo limitada, ele cita que “alguns comportamentos não se mostram em movimentos observáveis”. E, na minha opinião, isso de fato é valido, pois, o comportamento de observar algo que esteja acontecendo no ambiente apenas provoca no organismo o ato de olhar e observar, mesmo se mantendo inerte, sem realizar gestos, ele apenas precisa do campo visual para ter o comportamento de observar.
    Ricardo M. G. Rocha

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  9. Quanto do que ocorre no mundo é comportamento? Ao deparar-se com está questão, Schick utilizou os estudos e afirmações de Skinner para desvendar tais questionamentos, neste, Schick discorda de Skinner, e afirma que é limitada a definição de comportamento, o que me agrada, pois, concordo que alguns comportamentos não se mostram em movimentos observáveis do copo. Schick assume não definir corretamente o que é comportamento, porém enfatiza o quanto é importante estuda-lo, tentando classificar as instâncias do mesmo.
    Por meio deste texto, consegui compreender que operante é o comportamento influenciado pelo ambiente e suas consequências, e é modelado a partir do nosso repertório inato.

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  11. A crítica feita no texto é do tipo conceitual e pode ser comparada a outras direcionadas ao conceito de comportamento operante. Contudo, como já mencionado nos comentários acima, o comportamento, para a análise do comportamento, não é definido apenas pelas características da resposta ou do reforço. Eles são importantes, pois contém parte do que é necessário para entender o fundamental, que é o produto da interação organismo e ambiente.
    O que o autor enfatiza é importante para estender a discussão sobre como se define o comportamento; é importante, inclusive, para que tenhamos um bom ponto de partida, qual seja, compreender como é entendido o objeto de estudo. Entretanto, parece-me que a crítica de Schick, em se tratando de uma análise conceitual, parece bastante enviesada pelos recortes utilizados no texto para exemplificar a fragilidade do conceito. Possivelmente, uma estratégia para conduzir o leitor a uma suposta conclusão inevitável. O autor tem acesso a textos em que Skinner começa a esboçar a ênfase no comportamento como unidade de análise funcional, o que faz com que análises estruturais da resposta e outras unidades do comportamento sejam como partes de um todo. Mas, como se observa na leitura do texto, isso não parece ser

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  12. O texto apresenta conceitos básicos de comportamento operante, movimento, contingência e reforço, promovendo com isso rica discussão sobre a importância, correção ou amplitude desses conceitos. A parte mais importante está no final do texto sobre a importância da análise funcional do cocomportamento. Estes devem ser analisados pela sua função, apesar de sua topografia diversa.

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  13. O texto apresenta conceitos básicos de comportamento operante, movimento, contingência e reforço, promovendo com isso rica discussão sobre a importância, correção ou amplitude desses conceitos. A parte mais importante está no final do texto sobre a importância da análise funcional do cocomportamento. Estes devem ser analisados pela sua função, apesar de sua topografia diversa.

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  14. As definições conceituais, não apenas para a Análise do Comportamento, mas para outros campos da ciência são importantes etapas do processo de construção do conhecimento. Delinear e delimitar os conceitos permitem que estejam claros os objetos de intervenção, análise e trabalho. O autor discute e problematiza conceitos centrais para a Análise do Comportamento, tais como o de comportamento operante, movimentos, contingência, e reforço, e que muitas vezes são ignorados nas produções experimentais da área. Ele atenta para esta necessidade de se revisar, delimitar e lapidar os conceitos utilizados na área, uma vez que eles são muitas vezes os pontos de partida para produções. Entretanto, para compreender a crítica do autor (e a sua ênfase na necessidade de se rever os conceitos utilizados), sinto que faltou alguma ponte com os princípios filosóficos do Behaviorismo Radical, antes de tratar dos conceitos, até mesmo para compreender melhor o ponto de partida do autor para as críticas.

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  15. Concordo com algumas inquietações acima: definir e delinear comportamentos com base em suas topografias, por exemplo, é insuficiente para conceituar comportamento operante.
    Senti falta de princípios filosóficos e da metodologia da Análise do Comportamento.
    Me questiono, com base no texto e nas aulas, como colegas de outras disciplinas interpretaram a Análise do Comportamento? Como nossas pesquisas são conduzidas e qual a finalidade das mesmas?

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  16. A discussão do texto "Operants" perpassa pela díade "estrutura" versus "função", o autor parece enfatizar os aspectos topográficos dos conceitos básicos, o que para a Análise do Comportamento tem importância apenas a nível da descrição e categorização do comportamento, não tendo sentido se desvinculada de uma análise funcional levando em conta as contingências em que ocorre tal comportamento ocorre, já que as análises são idiográficas (caso a caso). Nesse sentido, sendo o texto uma análise conceitual, os conceitos abordados careceram de clareza epistemológica, bem como lembrou a Adriana, levando em consideração que na Análise do Comportamento o braço filosófico/epistemológico do Behaviorismo Radical é o que dá subsídio para a aplicação de conceitos básicos, o primeiro não se desvincula do segundo.

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  17. Olá, gostei bastante do resumo de vocês.
    Acho que crítica de Schick contra Skinner é ainda muito suave e ainda em quase total concordância com ele.
    Este autor não abordou o maior contraste histórico de todos: o behaviorismo versus a etologia clássica (dos anos 60). Da escola inatista, surgiu depois a sociobiologia, a ecologia comportamental e a psicologia evolutiva. Os estudos behavioristas ainda não fazem uso correto da maior de todas as revoluções científicas: o darwinismo. Nunca vi o conceito de “adaptação” corretamente aplicado nesta escola.
    Este artigo (de 1971) é posterior a toda a critica de Chomsky contra Skinner (de 1957) e este artigo é posterior as todas as publicações clássicas dos pioneiros etólogos inatistas (como Nikolaas Tinbergen, Konrad Lorenz e Karl Ritter von Frisch), que definiram instinto e até aprendizagem inata. Não sei porque ele ignorou a ferrenha aversão de tantos teóricos contra a escola behaviorista.
    Eu indico para vocês o livro “Tábula Rasa” (2004), de Steven Pinker, e os avassaladores argumentos contra o behaviorismo.
    Para um etólogo, a definição de comportamento existe: é qualquer padrão na “forma do comportamento” (mudanças físicas no movimento muscular, ou na falta de movimento muscular) que aumentam a eficiência do individuo na sua sobrevivência ou na sua reprodução a curto ou longo prazo.

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    1. Saul, interessante sua crítica. No entanto, a definição de comportamento mencionada por você é bem diferente da compreensão de comportamento para Skinner.
      Skinner explica comportamento através de três níveis de seleção: Filogenético, Ontogenético e Cultural. Sendo o nível filogenético fortemente influenciado pela teoria Darwinista.
      Acredito, conforme discutido em sala de aula, que o artigo trata-se de uma análise conceitual de comportamento operante, mas não acredito que perpasse por uma negação da existência de tal tipo de comportamento.
      Muitas vezes as críticas feitas ao behaviorismo são fruto do pouco contato com a teoria, por isso sugiro a leitura do livro "Até onde o que você sabe sobre o behaviorismo é verdadeiro?" de Nazaré Costa.
      E claro, o próprio texto "Seleção por consequências" do Skinner.

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    2. Saul, interessante sua crítica. No entanto, a definição de comportamento mencionada por você é bem diferente da compreensão de comportamento para Skinner.
      Skinner explica comportamento através de três níveis de seleção: Filogenético, Ontogenético e Cultural. Sendo o nível filogenético fortemente influenciado pela teoria Darwinista.
      Acredito, conforme discutido em sala de aula, que o artigo trata-se de uma análise conceitual de comportamento operante, mas não acredito que perpasse por uma negação da existência de tal tipo de comportamento.
      Muitas vezes as críticas feitas ao behaviorismo são fruto do pouco contato com a teoria, por isso sugiro a leitura do livro "Até onde o que você sabe sobre o behaviorismo é verdadeiro?" de Nazaré Costa.
      E claro, o próprio texto "Seleção por consequências" do Skinner.

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    3. Saul, o modelo de seleção por consequências de Skinner é baseado na teoria darwinista, correspondendo a três níveis de determinação (probabilística) do comportamento: filogenético, ontogenético e cultural, como lembrou a Karen. Além da literatura citada, recomendo a leitura do livro "Ciência e Comportamento Humano", do Skinner, que é um livro mais filosófico, neste o próprio Skinner traz definições conceituais e discute sobre influências em sua teoria.

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  18. Antes de pensar como e porque um individuo se comporta e as consequências de seus comportamentos, por este estudo parece necessário entender o que é comportamento para ser possível estuda-lo. Entretanto, parece não ser possível de modo tão claro definir o seu significado. É interessante como o behaviorismo considera a importância dos acontecimentos como influência à suas respostas, além de nos apresentar outros conceitos, não só o de estímulo-recompensa. Como o reforço, que além de promover uma probabilidade à repetição, também promove uma mudança do comportamento. O que parece ser um “operante” sobre as respostas do individuo. Ou seja, é uma complexidade muito maior do que um simples evento ambiental parece nos mostrar. É uma dimensão de como funcionamos no mundo. É algo ao mesmo tempo, extremamente desafiador e interessante.

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  19. Comportamento operante? Reforço? Contingência? Para quem não está familiarizado com esses conceitos, a leitura desse artigo de fato é bastante desafiadora. Ainda assim a considero uma leitura relevante, especialmente por ser voltada puramente à análise conceitual. O foco desse trabalho não é desacreditar os conceitos estabelecidos por Skinner, mas sim propor uma reflexão sobre a construção dos mesmos, estimulando o leitor a efetivamente pensar sobre eles, algo que é essencial para qualquer área do conhecimento.

    Contudo, para uma melhor compreensão do que é discutido, é recomendável o contato com os textos originais que são referenciados, além do entendimento do contexto no qual ele se situa (é uma discussão de 1971, portanto deve ser avaliada sob essa perspectiva).

    Finalmente, sob o ponto de vista de alguém que não é da Análise do Comportamento (como eu), acredito que seja importante buscar trabalhos dessa área que discutam aspectos relacionados à função do comportamento e sua relação com o ambiente, como apontado em vários comentários anteriores, para um entendimento mais amplo de como o comportamento é entendido e estudado.

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  20. Penso que o artigo de Schick causa polêmica no sentido que re-discutir pilares de um fundamento/ciência naturalmente causa desconforto a todos que a apoiam. Acho que a grande riqueza da contribuição das áreas de estudo encontram-se verdadeiramente quando estas interagem umas com as outras. Os trabalhos em laboratório indiscutivelmente têm contribuído e muito no avanço da compreensão de vários temas, porém precisamos avaliar que toda ciência conta também com suas limitações explicativas pois nem todo ponto de vista é único, universal ou auto-suficiente. Acho louvável a postura de um cientista que está aberto a ouvir outros pontos de vista, mesmo que não concorde com eles, é uma postura talvez de muito bom senso em aceitar que toda pergunta possa ter uma multiplicidade de respostas, e inclusive que todas elas possam sim ser válidas conforme cada perspectiva.

    Importante frisar que a própria percepção em si é um mecanismo passível de distorções, e temos inúmeros exemplos ao longo da existência humana disso, vejam as dezenas e dezenas de religiões que surgiram (e ainda continuam surgindo!) por diferentes interpretações de um mesmo livro (algumas que chegam a colocar a própria vida em jogo por causa disso) até áreas mais exatas que ficam trocando farpas para diminuir ou refutar outras teorias e concepções.
    Em uma análise mais concisa, acredito que o artigo de Schick contribui no sentido de levantar a discussão sobre a teoria e concepções em torno do comportamento operante (afinal acho justo sempre revermos e repensarmos os pilares que fundamentam nossas crenças, por mais certas e conclusivas que pareçam), mas por outro lado (negativo) o artigo também se mostra bastante incisivo na contestação a Skinner com base nos conceitos criados três décadas antes do seu artigo, mas que ao tentar debater acaba se propondo a chegar uma “solução” imediata de redefinição de operantes que pouco contribuiu. Penso que Schick não leva em muito em conta o contexto das idéias debatidas de Skinner, assim como muitos de nós prontamente o criticamos sem levar em conta as limitações no contexto do debate que ele propôs (44 anos atrás).

    Por fim, compartilho o link de uma palestra de Skinner realizada na convenção da APA em 1990, e que traz mais algumas idéias e reflexões interessantes sobre os bastidores do Behaviorismo Radical. (https://www.youtube.com/watch?v=Bf-GKbcSFNo) . A filmagem tem aproximadamente 20 minutos e possui legenda. Bom filme a todos.

    RODRIGO KILL

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  22. Acredito que esse texto deve ser lido levando em conta o contexto histórico envolvido, esse é um texto de 1971 e muito foi desenvolvido na construção da filosofia do Behaviorismo Radical, após essa data. As contestações propostas pelo autor são válidas, porém muitos dos questionamentos levantados foram respondidos posteriormente com o desenvolvimento e aplicação dos princípios propostos por Skinner. Contudo elogio o cientista que se propõe a debater e a expor sua interpretação a respeito de princípios estabelecidos como pilares de uma determinada ciência. Isso porque na minha opinião isso possibilita a produção de mais pesquisas e de construção de novos conhecimentos.

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    2. Concordo, acredito que nao ter essa abertura torna o conhecimento cientifico em conhecimento religioso. Julio Alves

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  25. Achei a leitura pertinente.
    O autor levanta uma série de questões partindo do próprio ponto de vista e definições de skinner, a importância em si não se da unicamente por isso, mas pela oportunidade de colocar em duvida algumas questões.
    Juntamente com o raciocínio do autor podemos perceber a importância do conceitual, qualquer teoria deve passar por um bom crivo racional, estabelecendo suas bases num modelo coeso não só no campo experimental, mas antes no conceitual.

    Acredito que a psicologia em geral não deve ser considerada pelo aluno como um ponto de vista dogmático e rígido, onde independente das novas informações eu me bloqueio para o dialogo ou discussão das ideias.

    Cansativo, porem importante para uma reestruturação conceitual.
    Julio Alves

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  26. Assim como vários colegas, também senti certo desconforto ao ler este texto devido à algumas críticas (que embora relevantes à época) que acredito já terem sido trabalhadas. Porém, foi de grande enriquecimento acadêmico tomar conhecimento de algumas destas críticas que não conhecia, e principalmente do debate gerado em cima disto. Agradeço ao professor por me por em contato com um texto que dificilmente eu tomaria conhecimento de outra maneira.

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  27. O artigo de Schick (1971) mostra uma 'luta conceitual' que, infelizmente (ou felizmente), se faz necessária numa ciência tão nova (metodologicamente falando) como a Psicologia. Um ponto de partida deve ser dado por alguém. E Skinner foi um dos poucos corajosos em Psicologia que não ficou "em cima do muro" no estabelecimento das leis gerais que regem o comportamento humano. Ao tentar explicar o comportamento, inicialmente, através da díade estímulo-resposta [s->r] (uma modificação no ambiente 'gera/elicia' uma modificação no ogranismo) os behavioristas possuiam em suas mãos uma forma minimalista de entender e rápida de compreender esse fenômeno de tão dificil explicação. Com o passar do tempo e com a criação de novos métodos de compreensão do comportamento, notou-se que não apenas isso erea suficiente para explicar grandes fenômenos, tais como transmissões culturais ou aquisiçãod e comportamentos mais complexos. E com isso tornou-se necessária a criação de um novo 'paradigma'.

    Por fim, esse novo paradigma criado pelos behavioristas (chamado paradigma operante), tentou explicar o que ocorria pelas suas "consequências". Isso poderia ser visto como um 'caminho inverso' para a compreensão do comportamento. O leitor poderia perguntar: Como assim explicar pelas suas consequências? Como o behaviorismo lida com as causas do comportamento? O leitor interessado no movimento/escola de pensamento poderia aprofundar-se na leitura de Skinner para compreender melhor. Porém, aquele que queira entender mais sobre o conceito utilizado no título do texto ('operantes'. em português) é essencial que saiba o que significa o chamado 'reforço/estímulo reforçador/consequência reforçadora'. Um reforço, em definição clássica, é qualquer consequência que possa fazer com que um comportamento venha a ocorrer posteriormente. Na definição de Schick (1971), ainda existem 'lacunas' conceituais que os trabalhos posteriores de Skinner tentaram responder. E que em alguns momentos conseguem responder, porém não em todos.

    Em resumo, esse texto, por prematuro que seja, tenta instigar o leitor a se perguntar se o pensamento behaviorista acerca da definição de operantes ou reforços é o mesmo desde seu surgimento, ou se ele se 'modificou' com o passar do tempo e da criação de novos métodos ou programas.

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  29. A experiência mais provocadora proposta por esse artigo é a análise conceitual, é incrível como nos incomodamos quando bases conceituais são postas em cheque. O convite prioritário do autor é para que se questione a aplicabilidade dos conceitos, embora não cause mudanças em si, o exercício que propõe é análogo ao princípio da autocorreção, que é característico e necessário à ciência. Mesmo que a forma mais sistemática de se fazer revisão, correção e contraposição de construtos teóricos seja em laboratório com os devidos controles experimentais, não é a única forma. É possível que paralelamente se faça uma crítica teórica provocadora que no mínimo nos incomode e nos faça ao menos buscarmos mais embasamento para nossas "certezas temporárias" que são frutos de comprovação até que se refute. Embora não tenha me feito descrer de tais paradigmas questionados, me fez ao menos buscar argumentos para firmar-me na sistematização obtida pela área de conhecimento aqui levantada.

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  30. Adicionando comentário ao anterior. Existe circularidade nos conceitos levantados de operante e comportamento verbal (mais especificamente mando), se e somente se não se levar em conta a diferença que existe entre contingência e contiguidade.

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  31. Como comentado por meus colegas, as críticas feitas parecem ser relevantes para época, no entanto, como demonstrado em muitos estudos, muitas respostas para esses questionamentos já foram respondidas. No entanto, é importante ressaltar novamente que embora haja algumas circularidades na característica topográfica de alguns conceitos, fazer uma análise funcional sobre determinado procedimento torna a analise mais eficaz e enriquecedora.
    Por sem um texto que instiga o leitor, acredito que ele pode até ter contribuído para pesquisas que foram realizadas após, afinal esse é o papel da ciência, responder perguntas e gerar novos questionamentos.

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  32. Diante do texto, tive à princípio, certa sensação de que Schick parece analisar Skinner numa via de mão única, uma hermenêutica sem contexto que “conduz o leitor a uma conclusão inevitável” à semelhança do que disse o Ítalo Siqueira. De fato, como lembra Merleau-Ponty (1908-1961): “toda comemoração é também traição” uma vez que voltar ao pensador pode ser um ato marcado pela homenagem supérflua de nossos pensamentos ou porque nosso respeito cuidadoso pode estar revestido daquele distanciamento que reduz severamente o pensador ao que ele quis e disse. Naturalmente, esta simples evocação não nega que o próprio Merleau-Ponty teceu críticas (A Estrutura do Comportamento, 1938) à premissas básicas do estudo do comportamento como o reducionismo e o determinismo. Com efeito, considero que o próprio formato do texto aponta para a dinâmica de um devir epistemológico sempre necessário e atual (como alguns já lembraram!) que toda ciência precisa dar conta.
    Emivaldo Machado

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  34. parabéns pelo desafio de resenhar o texto teórico. Desconheço resposta cabal aos problemas levantados por Schick. Me parece que ele leu a resenha do Chomsky de 1959, pois todas as criticas estão presentes neste artigo. A diferença é que Schick procura não responder as questões propostas por Chomsky mas organizar as principais lacunas na teorização skinneriana e convidar o leitor para montar o quebra cabeça teórico. o que vale não é a solução mas o avanço teórico que se pode alcançar.

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